Saúde e Desenvolvimento

Por Juliana Markus*

O Desenvolvimento é um tema em pauta na sociedade brasileira. O nosso atual estágio no processo civilizatório deu-nos a possibilidade de livrar-nos de moléstias que tornavam a vida muito curta no início do século passado. De uma vida predominantemente rural, hoje a maior parte dos brasileiros vivem em cidades e os cuidados com a saúde se ampliaram tanto quanto a longevidade.

Contudo, as desigualdades de acesso à saúde ainda são obstáculo para que o cidadão exerça plenamente a sua vida social e econômica. A longevidade já não é um problema, mas a qualidade de vida é que está muitas vezes expressa em anos de reclusão numa cama sem participação social.

 A criação de um sistema público universal e integral foi um grande passo para promover um atendimento de qualidade a todos que dele precisam. Entretanto, o SUS ainda é uma promessa a ser cumprida e está distante do desejável.

 O cenário local da saúde pública, em que o problema de acesso a leitos, disponibilidade de vagas em enfermaria e UTI foi minimizado, mas insatisfatoriamente equacionado mesmo com a abertura do Hospital Municipal e da criação de mais vagas de UTI na UFU.

 Ainda hoje, pacientes ficam mal acomodados em macas nos corredores das UAIS e do HC/UFU. Isso sem falar das filas de pessoas que estão aguardando procedimentos em casa, correção de fraturas, cirurgia de vesícula e biópsias.

Na contramão dos melhores preceitos em saúde pública a atenção básica não está em primeiro plano. Estes serviços não possuem cobertura mínima para a população, que ainda enfrenta as incursões de cidadãos de outras cidades.

 O Programa Saúde da Família cobre apenas 25% da cidade e enfrenta problemas de rotatividade profissional, baixa remuneração e falta de infraestrutura. As sedes são improvisadas. O atendimento ambulatorial especializado tem baixo nível de resolutividade de problemas, em outras palavras, o paciente sai sem diagnóstico ou então com solicitações de exames que demoram muito a serem realizados e reavaliados.

 Vale ressaltar que os profissionais que atuam nessas unidades, muito embora toda a adversidade, o fazem de forma heróica e sonhando com um futuro melhor. Muitos se dedicam, quase exclusivamente, à saúde pública sem serem reconhecidos ao longo dos anos.

 Uberlândia se orgulha muito em dizer que está a frente do seu tempo, que possui um dos melhores cenários de empregabilidade entre outros méritos. Acredito nisso, porém à área da saúde ainda não podemos agregar essa imagem, apesar dos artistas globais anunciarem outra realidade em propagandas, estamos muito atrasados em termos de implantação de estruturas mínimas necessárias ao povo da cidade a fim de resolver com dignidade seus problemas de saúde, ou mesmo influenciar a região no sentido de se organizar em termos de serviços.

 Na próxima terça (29/Nov) ocorre a inauguração da delegacia do Sindicato dos Médicos em Uberlândia, com uma palestra sobre o Financiamento da Saúde. Esse debate é para toda a sociedade uberlandense, não é apenas para o médico ou outro profissional da saúde. Mas é para aquele que está preocupado com o onde e como será atendido.

 Na nossa visão, a saúde é o grande tema que desafia o desenvolvimento da cidade. Ao longo dos anos não tivemos propostas arrojadas para o setor tão quanto vemos para área de obras e infraestrutura.

 As iniciativas do Sindicato dos Médicos buscarão dialogar com todos aqueles que acreditam que o dever do Estado se materializa, em primeiro lugar, na preservação da vida em todos os seus sentidos e possibilidades. 

* Juliana Markus, médica do Sistema Único de Saúde.

Instituto República: uma década depois

 

O Instituto República completou uma década de existência este ano. Oficialmente, foi registrado em abril de 2003, mas a ideia de fundá-lo foi discutida pela primeira vez em 2001, numa reunião noturna na casa da Juliana Markus.

Do Meran veio à inspiração para criar a ONG e do Élisson a nossa primeira proposta de estatuto para associação civil, que foram amadurecendo em inúmeras conversas durante a gloriosa campanha de Lula em 2002.

Em 2003, quando ainda estávamos eufóricos com os primeiros meses de Lula na Presidência da República, fizemos um lançamento bem ao nosso estilo e com a nossa cara, marcado por um brilhante discurso da Roberta Baggio sobre a república e a luta pela vida.

Quarenta e duas pessoas autografaram a ata de fundação do instituto dentre professores da UFU, militantes do movimento estudantil, conselheiros do orçamento participativo e jovens profissionais egressos da universidade.

Os laços políticos, ideológicos e afetivos que uniram essas pessoas nasceram no ambiente do movimento estudantil nas gestões do DCE/UFU na segunda metade da década 90 e no contexto de oposição ao governo FHC e ao neoliberalismo.

O legado das lutas do movimento estudantil na UFU foi significativo na experiência política tanto da universidade quanto dos seus participantes, forjando uma identidade de grupo e uma convicção sobre a necessidade de continuar a luta por mudanças sociais profundas na sociedade brasileira.

A empolgação inicial acabou arrefecendo, pois os primeiros anos profissionais de todos exigiram uma dedicação às vidas pessoais e os espaços de encontro passaram a ser mais reduzidos, visto que nós nos espalhamos pelo território nacional em Porto Alegre, Brasília e Belo Horizonte.

O Instituto República nunca saiu dos nossos planos e sonhos. Continuou a ser uma espécie de condomínio “institucional”, um CPNJ, que tinha como promessa manter a atuação conjunta que honrou as nossas trajetórias enquanto militantes políticos.

Nestes dez anos, alguns projetos foram desenhados e não saíram do papel. Outros projetos foram realizados, mas apenas tendo no CNPJ do instituto um meio formal para viabilizar a contratação e o gerenciamento dos recursos. Também houve projetos com voo de galinha, ou seja, começaram bem, mas por pouco tempo.

Em maio deste ano, nos encontramos novamente. Não estavam todos os fundadores do instituto, pois nem era esse o proposito, já que o motivo mesmo era a confraternização e as festividades pelo aniversário do Élisson. No entanto, as conversas e as memórias trouxeram a tona sentimentos e afinidades que continuam vivas e atuais.

Embora sem atividades intensas ou resultados comemoráveis, o Instituto República representa um semióforo para o coletivo dos seus fundadores.

Marilena Chauí nos explica que semeiophoros é uma palavra grega composta de duas outras: semeion “sinal” e phoros “trazer pra a frente”, “brotar”, “pegar”. Um semeion é também um rastro ou vestígio deixado por algum animal ou por alguém, permitindo segui-lo ou rastreá-lo. A ideia de semáforo como um sistema de sinais que indica ao vê-los se devemos parar, seguir ou ter atenção é originada pelo conceito de semióforo.

Portanto, o semióforo é um signo trazido à frente ou empunhado para indicar algo que significa alguma coisa e cujo valor não é medido por sua materialidade e sim por sua força simbólica. Um semióforo é, pois, um acontecimento, um objeto, uma pessoa ou instituição que são retirados de circuito do uso ou sem utilidade direta e imediata para a vida cotidiana porque são coisas providas de significação ou de valor simbólico, capazes de relacionar o visível com o invisível.

Neste sentido, o Instituto República é este “ente” que personifica simbolicamente (enquanto um semióforo) a trajetória, as lutas, as ideais e ideais de um tempo intenso, marcante e heroico de nossas vidas.

No próximo dia 08 de outubro faremos uma nova assembleia do Instituto Republica. Mais uma vez iremos compartilhar nossas opiniões, sonhos, desejos e fantasias.

Naquele espaço, poderemos discutir projetos e iniciativas que pretendemos ou temos vontade de realizar e que nem sempre o cotidiano e as responsabilidades pessoais nos permitem.

Os associados do Instituto República terão muitos assuntos para tratar que passam por questões burocráticas sobre a documentação e regularidade da associação; eleição de uma nova diretoria, conselho fiscal e conselho deliberativo. Mas também deveremos discutir quais serão as pautas políticas e causas que podemos contribuir.

Diferentemente da época em que fundamos o Instituto, hoje temos uma escassez de utopias e ideias de reforma social. Os anos do governo Lula acabaram por atenuar as lutas sociais e aprofundar o individualismo.

Como bem disse o Marcio Pochmann, antes a esquerda tinha ideias e não tinha votos. Hoje tem votos e não ideias.

Talvez esteja aí uma oportunidade do Instituto Republica interagir com as forças vivas da sociedade. Para extrapolar os limites do realismo que a esquerda vem exortando desde que governa o país.

Devemos ter um espaço de encontro presencial e virtual. Tanto na internet, com um site e uma plataforma de interação com ênfase nas redes sociais. E também um casa própria (Minha Casa, Minha Vida), uma sede em que possamos guardar as nossas memórias e seguir a nossa trajetória em defesa da vida.

Espero com alegria encontrar todos vocês daqui a dez dias para comemorarmos os dez anos do Instituto República.

* Edson Pistori é um dos 42 fundadores do Instituto República (www.republica.org.br).

Aniversário do Élisson em maio de 2011

 

Uma trajetória impressionante

Em 1998, os professores das Universidades Federais fizeram uma greve de quase 100 dias para reivindicar um aumento nos salários e protestar contra a implantação de uma gratificação por produtividade.

Na Universidade Federal de Uberlândia, os professores do curso de Direito aderiram a greve, embora muitos aproveitaram o tempo para colocar o pijama (não trabalhar) ao invés de protestar de fato. Neste episódio conheci um estudante calouro com nome semelhante ao meu: Élisson Prieto.

Desse dia em diante atuamos juntos no movimento estudantil por duas gestões do DCE/UFU e em muitas outras iniciativas políticas. Elisson foi o único estudante a ser reeleito para função de Coordenador-Geral do DCE/UFU (2000 e 2001) e participou de mais uma gestão como Coordenador de Ciências Humanas (em 1999).

A trajetória desse militante é incrível.  Agregando compromisso político, seriedade e habilidades de conciliação, Elisson atuou diretamente e foi protagonista nos processos que mais marcaram a UFU nas duas últimas décadas. Foi o representante dos estudantes na negociação do Regimento Interno da UFU, liderou a histórica campanha pela paridade nas eleições para Reitor, elaborou o regimento interno da Faculdade de Direito, além de inúmeros outros projetos do movimento estudantil que incluem a mudança na sede do DCE para dentro campus, a luta pela construção dos centros de convivência dentre outros.

Em 2003, retornou a Universidade para fazer um mestrado em geografia, cuja dissertação envolveu um estudo profundo sobre a implantação de um novo campus universitário na Fazenda Glória. Ingressou na UFU como docente do Instituto de Geografia e, mesmo sendo um militante do PT e da esquerda, foi convidado pela Reitoria, composta pelos conservadores, para coordenar os estudos de implantação do campus Glória.

Na semana passada, o Conselho Universitário aprovou o Plano Diretor do novo campus. Um projeto sensacional em todos os aspectos. Virtuoso desde o formato da sua concepção, pelos custos operacionais e pelos méritos de inovação e soluções inteligentes.

A construção do Campus Glória mudará para sempre a configuração da UFU  neste Século XXI, que terá um dos campi mais contemporâneos e avançados do país. Veja aqui a projeção do projeto.

Imagem do projeto do Campus Glória da UFU aprovado pelo CONSUN

O Élisson e sua equipe merecem aplausos públicos, assim como a própria Reitoria da UFU que soube superar as divergências ideológicas em prol de  uma convergência pelo interesse público e institucional.

Por este projeto e pela sua trajetória, Élisson Prieto coloca seu nome ao lado de um grupo muito seleto de idealizadores e fundadores da Universidade Federal de Uberlândia e da própria cidade de Uberlândia. Com apenas um detalhe, ele tem apenas 31 anos e não é oriundo das famílias tradicionais e abastadas, mas um militante político de esquerda, católico e fruto das lutas por um mundo mais justo e igual.

Meu caro Élisson, receba minhas saudações! “Saudações pra quem tem coragem!”

Para conhecer melhor o projeto do Campus Glória visite os sítios:

http://www.campusgloria.ufu.br/

http://elissonprieto.wordpress.com/2011/09/10/campus-gloria-da-ufu-plano-diretor-aprovado/

Artigo publicado no Jornal Correio de Uberlândia em 25 de Setembro de 2011:

http://www.correiodeuberlandia.com.br/pontodevista/2011/09/25/uma-trajetoria-impressionante/